«O
amor ao próximo é o maior prazer do ser humano.» (1)
Somos
aparentemente, no imenso universo, a única espécie a habitar esta poeira
cósmica de matéria e sonhos. Sem compreendermos os mecanismos do seu
funcionamento, oscilamos entre um sentimento de abandono e de esperança, neste
cosmos que flutua no espaço. Seria pois nas relações humanas, nas mais diversas
situações, que a humanidade poderia encontrar um sentido para a sua existência.
Justifica-se que valores como a amabilidade e a generosidade estejam no centro
das relações humanas.
Não sendo o que acontece, que justificação e que preço
para a sociedade humana? Adam Philips e Barbara Taylor (2) defendem que o amor
ao próximo é hoje «o nosso prazer proibido». Porque temos esta incapacidade de
nos identificar com os outros, com as suas dificuldades, angústias, receios e
sucessos? Tendo o Ocidente dois mil anos de cristianismo, onde o amor ao
próximo organizou o pensamento para tantos milhões, porque é que assistimos à
valorização do individual como única forma de sobreviver num mundo dominado
pelo egocentrismo, onde tantos parecem estar em guerra por qualquer coisa que
não entendem? Afinal demonstrar generosidade publicamente ainda é considerado
um ato de inferioridade psicológica ou de sentimentalismo de valor duvidoso.
A
amabilidade não é ainda vista pela sociedade como algo natural. Com graves
limitações à afetividade, a sociedade contemporânea elegeu o individualismo e a
sua independência singular como critérios de sucesso. A solidariedade como fator
de existência humana é ainda vista como uma fraqueza. Quantos projetos de
grandes empresas estão ligados a causas de igualdade social?
Nos últimos anos,
as ideias de um liberalismo feroz tem remetido a afetividade natural do homem à
esfera do privado. No espaço público, os valores dominantes são outros:
competição, domínio da estatística, realidade virtual onde se compete sem
valores espirituais, onde a função vale mais que a pessoa. Nesta época, vale
pois muito considerar a importância da fraternidade e da solidariedade que o
Natal nos devolve como mensagem essencial para estes tempos.
(1)
Marco Aurélio, imperador Romano, in Courrier Internacional, março de 2009.
(2)
Adams Philips, Barbara Taylor, The Guardian, 03/01/2016